quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Minha Visão Sobre o Futuro do GURPS

 Essa semana, no GURPS Group Brasil, começou uma discussão sobre o que pode ter vindo a causar a queda de popularidade de GURPS nos últimos anos. Pra completar o GURPZine divulgou a aparente razão pela qual a edição Revisada do Módulo Básico teria sido recolhida pela Devir depois de pouco tempo de venda. A seguir exponho minha opinião sobre a situação do GURPS tanto aqui, como nos EUA e o que eu acho que pode acabar acontecendo com GURPS no Brasil.
Nos EUA
Na terra natal do GURPS, ele é referência. Referência de sistema de regras, de qualidade de suplementos e de respeito com a comunidade de fãs. Mas depois de 30 anos (sim, GURPS completa 30 anos em 2016) e 12 anos de Quarta Edição, GURPS deixou de ser um produto vendável e passou a ser um jogo cult, apreciado primariamente por aqueles que já o jogavam.
 Abrindo um parêntese: Eu sou uma exceção a essa regra. Comecei a jogar GURPS em 2012, já com a Quarta Edição em português e venho jogando até hoje (sempre como Mestre, nunca como Jogador).

 Esse foi o ponto da discussão no GURPS Group Brasil: O que a SJ Games tem que fazer pra tornar GURPS vendável novamente?

Quinta Edição?
Algumas pessoas defendem que GURPS precisa de uma nova edição.
Efetivamente, a Quarta Edição do GURPS, para os padrões atuais (grandes alterações nas regras com trocas de edições), é a Segunda Edição do jogo. As duas primeiras edições (nunca lançadas em português) são o mesmo jogo, com pequenas revisões, a terceira edição deixou o jogo mais robusto e mudou a apresentação de uma caixa para um único livro, mas sem grandes alterações nas regras. Inclusive a proposta da Terceira Edição era essa: Você só precisar de um livro pra jogar, porém, depois de mais de uma década, a biblioteca da Terceira Edição era gigantesca e muitas regras ficaram dispersas em livros que se esgotavam e deixavam os jogadores com um jogo incompleto. Aí vieram os Compendia, indexando e revisando quase 20 anos de material da 3ed, tornando agora necessários três livros pra jogar GURPS.
 Esse foi o primeiro passo para a Quarta Edição. Enxugar subsistemas e colocar todo o material de GURPS em dois livros é o foco do Módulo Básico desta edição e foi a primeira vez que GURPS sofreu grandes alterações de regras, mudando custos de características, abolindo subsistemas que engordavam o jogo e apostando numa repaginada visual dos livros.
 Acredito que nos últimos 12 anos, a Quarta Edição sofreu um pouco do que a Terceira Edição tinha sofrido: Muito material bom do jogo saiu em suplementos, como Powers e Thaumatology. Muita coisa que podia ter saído no Módulo Básico. Afinal, essa é a proposta do jogo: Jogar qualquer coisa só com o Básico.
 E é por isso que GURPS falha como produto: muita gente está confortável jogando só com o Básico. Isso é uma coisa ruim? Pra nós jogadores, não. Pra eles, talvez.
 Uma nova edição tomaria qual rumo? Respeito aos jogadores, deixando o MB ainda mais completo, ou uma estratégia comercial focando venda de suplementos?
 Eu acredito que GURPS não precisa de uma nova edição, talvez uma revisão na Quarta Edição incorporando algumas regras do Powers e do Thaumatology, mas não uma Quinta Edição. GURPS precisa de Marketing.
Quantos de vocês já viram produtos de D&D além dos próprios livros de RPG? Camisas, Jogos de Tabuleiro, Kre-O (a versão da Hasbro pro Lego), filmes, jogos de video game, desenhos animados e a lista continua.
 Pra GURPS tivemos a esperança do GURPS Fallout em 1997, a promessa do GURPS Online que nunca saiu do papel e a Devir que é a Devir, fez camisas do GURPS para promover o I Encontro GURPS Brasil, lá em 2012.
 Alguém pode defender que a comparação com D&D é desleal, mas e quanto a Shadowrun? Tem gente que conhece Shadowrun mais por seus jogos de video-game do que pelo RPG de mesa. Cyberpunk 2020 vai ganhar um video-game e inclusive a parceria com a CD Projekt RED vai dar origem a um RPG de mesa de Witcher.
 Imagina se GURPS Fallout tivesse dado certo. Além de mais visibilidade da marca, teríamos um RPG de mesa oficial de Fallout, usando as regras do nosso amado GURPS.
 A qualidade do jogo não se basta pra divulgação, uma nova edição alavancaria as vendas por um tempo, mas não podemos esperar que eles troquem de edição sempre que precisarem vender mais, isso seria desleal com quem já joga e iria contra a proposta de não precisar comprar pilhas de livros pra jogar GURPS.

E no Brasil
 Aqui a coisa fica mais triste.
No Brasil, GURPS ainda faz sucesso. Durante os anos 90, ele compôs a trindade de jogos mais vendidos no Brasil, junto de D&D e Vampiro, além disso, é o único sistema genérico simulacionista no mercado (até que alguém lance o Hero), então tem pouca concorrência pra ele.
 Eu mesmo já pensei em jogar outra coisa com raiva do descaso da Devir, mas cheguei a triste constatação que pra jogar do jeito que eu quero sem precisar gastar dólares, minha única opção é GURPS. E Savage Worlds não é opção. Nada contra o sistema, mas ele não se joga que nem GURPS.
 E eu amo GURPS, imagina quem não tem problema em trocar de sistemas e estilos de jogo. Tem dezenas de opções no mercado nacional pra esse tipo de pessoa.
 A Devir tem uma marca forte, com muitos fãs e pouca concorrência e o que ela faz? Enrola o lançamento do primeiro suplemento por quatro anos.
 Quatro anos.
 Alguém pode defender que GURPS não vende e tudo mais, mas esse descaso não é só com GURPS.
Nesses mesmos quatro anos, tivemos pela Devir a caixa básica do Um Anel, o Escudo do Mestre do mesmo jogo e o Básico do Pathfinder. E esses dois últimos foram só ano passado. Tivemos um hiato de 3 anos sem nada de RPG da Devir antes disso. Além disso, o Módulo Básico esgotou e foi reimpresso, provando que o jogo vende.
 E agora, esse problema da Devir com a SJ Games fez ela recolher o Módulo Básico revisado, o que pode ser um golpe duro nas vendas, pois isso pode significar uma terceira revisão. Gente que comprou a edição revisada (tipo eu...) pode não querer comprar uma nova revisão só por que a Devir deu uma vacilada no copyright. Ainda tem o fato que ela também não está mais vendendo o Módulo Básico: Campanhas, o que pode ser outra evidência de novas revisões.
E os suplementos continuam sendo adiados.

Futuro do GURPS aqui e acolá
Nos EUA, GURPS não vai falir. Não enquanto tiver mercado de pdf. Mas também não vai sair do cult, uma vez que a SJ Games não pretende investir no Marketing que o jogo merece.
 Aqui no Brasil talvez GURPS esteja caminhando para o esquecimento (da editora, não dos jogadores), a menos que a Devir resolva investir pesado no jogo, lançando mais de um livro por ano e fazendo o próprio marketing que a SJ não faz (As camisas que ela lançou em 2012 mostram que ela tem autoridade pra isso). Mas nós sabemos que isso não vai acontecer.

O Nereus RPG também deu seu pitaco sobre o futuro do GURPS aqui no Brasil, vai lá dar uma lida.

 Enquanto isso ficamos nas especulações e esperando que em 2016 GURPS Magia e GURPS Poderes não sejam adiados pro ano que vem.

12 comentários:

  1. Falou tudo meu amigo. Triste fim de um sistema épico...tradição é história do RPG no Brasil jogado na lama. Mais respeito pelo GURPS!!!

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    1. Sim. A menos que a(s) editora(s) responsáveis por vender GURPS façam o trabalho delas, ele vai estar fadado a viver no cult, com poucos novos jogadores.

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  2. A Devir, sendo bem honesto, é uma péssima editora.

    Primeiro porque ela não sabe o que quer da vida, se propõe a fazer algo e depois desiste no meio do caminho. Não vendeu o quanto você esperava? Então é porque você fez uma pesquisa de mercado porca. Já estou de saco cheio da Devir se comprometer, por exemplo, a lançar os 13 romances de clã de Vampire e desistir na metade, deixando os fãs na mão (além de tirar permanentemente de impressão os primeiros volumes).

    Segundo porque ela não consegue focar em nada. Entre um RPG e um romance de algum coreano metido a Bukowski, a Devir parece que lança qualquer coisa que caia na mão dela... Desde que não venda. Muitas editoras lançam coisas bastante distintas entre si, mas elas criam selos diferentes e se dedicam p'ra tudo o que se comprometem.

    Terceiro por causa da qualidade dos livros dela. Como se não bastasse as traduções estilo Google Translate da Devir, ainda somos obrigados a comprar livros impressos em papel de baixa qualidade, com letras minúsculas que quase transbordam da página e em preto e branco (como o GURPS), o que vai contra a proposta do livro de ser bonito e cheio de desenhos... Os livros da Devir são são porcos que vale mais a pena baixar em PDF p'ra ler no celular ou imprimir e encadernar com uma qualidade decente pelo mesmo preço.

    Dito tudo isso, eu comecei a me interessar por GURPS há um mês e ainda não joguei. Estou lendo os livros básicos da quarta edição (em inglês mesmo) mas o jogo me parece maravilhoso, mas imagino que a única forma dele fazer sucesso aqui é sendo lançado por outra editora.

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    1. Infelizmente, não há editoras interessadas em GURPS. E se um dia teve, elas perderam o interesse quando a Devir lançou os Básicos da Quarta Edição, uma vez que o grosso das vendas de um RPG é seu básico.
      Além disso, a Devir tem o histórico de segurar licenças. Shadowrun, que lá fora está na quinta edição e figura como um dos RPGs mais vendidos, aqui está permanentemente numa segunda edição esgotada. O mesmo pode ser dito de Cyberpunk 2020 (que provavelmente ganhará uma nova versão depois do video-game Cyberpunk 2077 ser lançado), Castelo Falkenstein, entre outros.

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    2. no caso de shadowrun e cyberpunk2020 creio q a licensa da devir nao tenha mais validade.

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    3. Isso é muito provável. E isso mostra a falta de organização na hora de manter linhas vivas. Com Cyberpunk 2020, é compreensível, uma vez que mesmo lá fora ele já não tem mais lançamentos, mas Shadowrun é uma marca forte em constante atualização e a Devir deixou morrer aqui no Brasil.

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  3. Queria que o GURPS saísse das patas da Devir e fosse pras mãos de uma editora de verdade. A New Order (que são duas pessoas) é mais comprometida que o lixo da Devir.

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  4. Concordei. As informações também estão bem precisas.

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  5. Galera, o negócio é investir nos pdF em ingles. Menos papel, fácil de levar para qualquer lugar. Afinal, para jogar, o que precisamos fisicamente são dados, fichas, lápis e borracha.

    Concordo com o que foi dito. Acrescento que para GURPS voltar a ter sucesso, ele deverá ser bem visto novamente pela SJ Games. Alem disso, a SJ Games tem que encarar as editoras que publicam os livros em outras linguas como braço dela. Exigindo qualidade e comprometimento.

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  6. Eu acho que o problema é um pouco pior. As grandes empresas do mercado dos rpgs estão lentamente os abandonando, para priorizar a produção de outros jogos mais vendáveis, especialmente os trade games, ou jogos colecionáveis, como o magic ou dice masters. Estes jogos, ao contrário dos rpgs, tornam os jogadores reféns de novas edições e suplementos, gerando lucros astronômicos.

    Eu até entendo que estas empresas necessitem de grandes movimentações financeiras para se manterem. Mas se os rpgs não dão o lucro que elas precisam, larga o osso então porra! Uma publicação de 5 a 10 mil cópias de um jogo para elas pode ser até troco de pinga. Porém, para editoras menores, é um sucesso decisivo!

    E é por causa deste descaso que cada vez mais autores e editoras independentes têm ganhado cada vez mais espaço neste mercado, principalmente aqui no Brasil. Creio que em breve, se esta situação não mudar, veremos estes Golias serem derrubados por uma legião de Davis.

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  7. Po, se vc comessou a jogar o gurps pelo 4°ed
    Talvez vc não saiba mas não tivemos o terceira edições, e sim a publicação única do 2°ed. Isso é o que tivemos no Brasil foi o GURPS 2°ED que depois a devir republicou com um apêndice envolvendo vantagens e desvantagens encontradas em suplementos GURPS esse apêndice é chamado de Apêndice do 4°Ed em português.
    Isso é o livro continuava sendo o 2°ED só que com um acressemo. Exisistiu um material de capa branca que pode ser chamado de 1°ED mas não era a primeira edição e sim o segunda meio que desfalcado de algumas regras e depois foi lançado o segunda edição completo. Mas nunca tivemos a publicação do terceira edição pelo menos não a versão oficial.
    Bom vamos falar do quarta edição.
    Não houve mudanças radicais em furos. Pelo menos não no sistema. Posso citar basicamente todas as mudanças reais que o gurps sofreu do segunda para o quarta.
    Mudanças n ST como rerador de fadiga para pontos de vida, e na HT como gerador de pontos de vida para fadiga.
    Mudança na pontuação de atributos. Enquanto o segunda edição usa um padrão inflexível paravcusto nível nos quatro atributos o quarta edição usa dois valores diferentes para ST/HT e DX/IQ.
    A ultima mudança drástica no gurps foi a implosão de vantagens desvantagens e pericias. Que não são en nada genéricas
    Chega ser dispensável qualquer forma de suplemento. Se o segunda edição era implodido por regras o quarta edição deixou o excesso de regras para o excesso de vantagens desvantagens e perícias.
    No MB do quarta edição existe coisas como artes marciais vareadas. O quarta edição não é mais completo e sim sobrecarregado de coisas que poderia ser material de suplemento.
    Quando li a versão lite eu fiqueivfacinada pela praticidade um GURPS encguto. Mas quando li o quarta edição me senti enfadigada tediosa e perdida.
    Tipo no segunda edição quando eu queria um denário específico eu adicionava ao MB idéias de um suplemento e sabia exatamente onde procurar. Mas no quarta edição ta tudo lá tipo ate super vantagens tem lá em meio de um amontuado de vantagens. Isso é para narrar o segunda ed bastava que eu usasse o MB e o suplemento já me dizia quais vantagens e desvantagens e pericias não eram recomendadas e as vantagens desvantagens e pericias mais adequadas estavam lá no suplemento ou de forma readaptada ou cono noca vantagem. No quarta edição alem de um mega livro desistimular o uso de suplementos. O GM temvque ficar avaliando mais DQ em excesso cada vantagem desvantagens e perícias para velalas ou corrigilas para seu universo de campanha, de boa isso torna os suplementos quase inútil e torna o MB um modulo cansativo.
    Particularmente ainda prefiro usar o segunda edição e uso i quarta só pra roubar algumas ideias

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    1. Você está equivocada.
      A Devir nunca publicou as primeira e segunda edições de GURPS no Brasil. A primeira edição nacional é a terceira edição e a segunda edição nacional é a terceira edição revisada.

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